Para economistas, efeitos da bolha do bitcoin ainda são incertos
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São Paulo - Até que ponto a desvalorização, crises e bolhas relacionadas a moedas virtuais, as chamadas criptomoedas, podem ser sintomas de graves ameaças à “economia real” ou ao sistema financeiro global? Um eventual estouro da chamada “bolha” do bitcoin pode ter efeitos similares aos que foram gerados pela crise dos suprime em 2008?
Segundo economistas ouvidos pela RBA, ainda é difícil saber qual a extensão e a abrangência do fenômeno bitcoin e qual o perfil das pessoas concretamente envolvidas com ele, mas as criptomoedas não ameaçam o sistema financeiro estruturalmente.
Para o economista e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Guilherme Mello, não há dúvida de que o bitcoin, em si, seja uma bolha. “Isso, no sentido de que é um ativo que, na realidade, não tem valor, porque não paga juros, não representa propriedade de ativo que gere renda. É apenas um meio de troca bastante limitado que você não pode usar para muita coisa”, avalia. “Tornou-se um ativo que, como todo ativo, as pessoas ganham com a variação dele. Mas nem toda bolha tem a capacidade de se disseminar pelo tecido econômico, pelo sistema financeiro, causando o que a gente chama de credit crunch, um esmagamento do crédito.”
As maiores instituições financeiras estão muito mais cautelosas e o bitcoin não é disseminado no conjunto do balanço do sistema financeiro, e sim entre pessoas físicas.
Para Mello, as consequências de um real estouro da bolha ainda não são claras. “Vai depender muito de quem tem essa ‘moeda’, qual o tamanho do bitcoin no balanço das pessoas. É preciso avaliar se a queda do bitcoin, que já está acontecendo, vai gerar desconfiança no sentido de que pessoas, empresas e investidores vão entrar em default, deixar de pagar seus compromissos.”
“Tudo depende muito de quem é o investidor de bitcoin. Ainda não temos dados confiáveis em torno disso. Dificilmente o bitcoin pode espalhar fragilidade financeira, porque as instituições financeiras não estão envolvidas diretamente, até pelo risco que envolve o uso desses ‘recursos’”, avalia o também economista e professor da Unicamp Pedro Rossi.
Na segunda-feira (12), comunicado conjunto de órgãos reguladores de bancos e do sistema financeiro da União Europeia alertou que as moedas virtuais, como não são reguladas, representam grande risco para quem se aventurar a apostar nelas. Enquanto isso, China e Coreia do Sul vêm adotando restrições contra a "moeda". Esses países mais Índia e Estados Unidos estudam medidas para regulamentar esse mercado.
O bitcoin subiu mais de 1.000% em 2017, mas, em 2018, já perdeu cerca de metade do valor.
Bitcoin x subprime
Na opinião de Guilherme Mello, é difícil prever qual a extensão dessa bolha, mas não há como comparar eventuais crises provocadas pelo bitcoin com as gravíssimas consequências do estouro da bolha imobiliária dos Estados Unidos em 2008, que arrastou o mundo. “O subprime afetava e envolvia o coração da família e do sistema econômico norte-americano, a construção civil, que sempre foi historicamente a base dos booms de crescimento, os grandes bancos e agentes financeiros. Estavam todos envolvidos, e no caso do bitcoin não é assim.”
Segundo Mello, outro aspecto que impede a comparação é que sobre as hipotecas imobiliárias havia uma série de outros produtos financeiros derivados. “Derivativos, derivativos de derivativos, todo o processo de securitização. No caso do bitcoin, isso é muito pequeno. Creio que só agora, semanas atrás, é que começou a se negociar um derivativo de bitcoin.”
Para Mello, bitcoin é uma bolha que tem tudo para estourar. “Só não sabemos qual é o tamanho do impacto. Não é uma crise como a de 2008. Pode ser uma crise, pode afetar a confiança, mas não é algo estrutural.” Sendo assim, caso haja uma crise, deve ser superada mais facilmente do que o crash de 2008. “Pode provocar oscilações importantes de curto prazo no mercado, mas não acho que uma crise sistêmica viria do bitcoin.”
Seja como for, a preocupação das instituições financeiras mundiais é natural, já que a moeda virtual envolveu muito as pessoas físicas. “A preocupação é que essas pessoas sejam afetadas, o que não quer dizer que o sistema financeiro vai ser afetado como um todo”, diz Mello.
Fonte: RedeBrasilAtual
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